Grandes Mestres

Os pais da capoeira, como também os maiores defensores e reconhecidos mestres de capoeira foram: mestre Pastinha e mestre Bimba.
O defensor da Capoeira de Angola
Mestre Pastinha
Vicente Ferreira Pastinha,
Mestre Pastinha
(1889–1981)
foi defensor da Capoeira de Angola. Foi uma das grandes celebridades da vida popular na Bahia.
Vicente Ferreira Pastinha nasceu em 5 de abril de 1889 em Salvador-Bahia. Mulato claro de estatura mediana, magro, de temperamento gentil e acolhedor, bem-humorado, reuniu ao seu redor um grande numero de excelentes capoeiristas, nem tanto por ser jogador excepcional mas pela força de sua personalidade, seus dotes de filosofo e poeta, seu amor e conhecimento dos fundamentos da capoeira angola. Filho do espanhol José Señor Pastinha e de Dona Maria Eugênia Ferreira. Seu pai era um comerciante, dono de um pequeno armazém no centro histórico de Salvador e sua mãe, com a qual ele teve pouco contato, era uma negra natural de Santo Amaro da Purificação e que vivia de vender acarajé e de lavar roupa para famílias mais abastadas da capital baiana.
Diz-se que Pastinha aprendeu capoeira ainda menino com um negro de Angola chamado Benedito que presenciou as surras que constantemente tomava de um menino mais velho. Mestre Benedito o chamou e disse: "O tempo que você perde empinando raia, vem aqui no meu cazua que vou lhe ensinar coisa de muito valia". Existem outras versoes que dizem que Pastinha aprendeu capoeira bem tarde, ja homem maduro.
A principio mestre Pastinha ensinava capoeira para os colegas da Marinha, onde ingressou aos 12 anos. Depois que saiu, aos 20 anos, abriu sua primeira escola de capoeira na sede de uma oficina de ciclistas. Alem de capoeirista, mestre Pastinha, era pintor; chegando a dar aula de pintura de quadros a oleo. Em 1941 fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola no casarão número 19 do Largo do Pelourinho. Esta foi sua primeira academia-escola de capoeira.
Disciplina e organização eram regras básicas na escola de Pastinha e seus alunos sempre usavam calças pretas e camisas amarelas, cores do Ypiranga Futebol Clube, time do coração de Pastinha. Para Pastinha, a capoeira "de Angola se diferencia da Capoeira Regional por "nao ter método", ser "sagrada" e "maliciosa". Pastinha nao aceitava a "mistura" feita por mestre Bimba, que incorporou a capoeira movimentos de outras lutas.
Pastinha dedicou sua vida a capoeira angola, tornando-se um dos estandartes da cultura afro-brasileira. Faleceu em 14 de novembro de 1981, aos 92 anos de idade, cego havia 18, abandonado pelos orgaos publicos e pela maioria de seus antigos alunos.
"Angola, Capoeira Mãe!
É mandinga de escravo em ânsia de libertade.
Seu princípio não tem método,
Seu fim é inconcebível ao mais sábio dos mestres."
(definição de Pastinha do jogo de capoeira)
O criador da Capoeira Regional
Mestre Bimba
Manoel dos Reis Machado,
Mestre Bimba
(1900-1974)
foi o criador da Capoeira Regional, e mudou os rumos da capoeira. Ele incluiu a capoeira em outras camadas sociais e disciminou a capoeira em outras regiões do Brasil.
Manoel dos Reis Machado nasceu em 23 de Novembro de 1900 no bairro do Engenho Velho, Salvador- Bahia, filho de Maria Martinha do Bonfim e Luiz Candido Machado, era o caçula de 25 filhos. O apelido ele ganhou depois que sua mae perdeu uma aposta para a parteira. Ela (sua mae) afirmava que daria a luz uma menina; a parteira, que seria homem. Dona Maria perdeu e o menino recebeu o apelido que, na Bahia , designava o orgao genital masculino. Luiz Candido Machado, seu pai, era conhecido como grande batuqueiro, uma luta do nordeste que desapareceu com o tempo. Com 12 anos aprendeu Capoeira Angola com Bentinho, capitao da Companhia de Navegaçao Baiana.
Pode-se dizer que Manoel dos Reis Machado mudou os rumos da Capoeira. Talvez por manter contatos com estudantes universitarios da época; talvez por acentuada percepçao, digna dos artistas que captam realidades a frente de seu tempo, procurando ressaltar a combatividade da luta e ao mesmo tempo, adaptando-a a realidade da nossa sociedade. Mestre Bimba, ja antes da decada de 1930, percebeu que era necessario que a capoeira sofresse algumas modificaçoes para que pudesse se expandir e conquistar definitivamente o seu lugar no meio esportivo, cultural e educacional brasileiro.
Mestre Bimba era conhecido como habilidoso lutador, destacado em desafios no ringue, e eximio praticante da tradicional Capoeira Angola. Nos anos 30 Bimba é procurado por um estudante, Cisnando Lima, um cearense de familia tradicional. Cisnando praticava algumas artes marciais e queria aprender capoeira. Cisnando com Bimba, cria toda a formalistica da Regional (mestre, batismo, formatura, paraninfo, calouro, orador, o termo formado, a metodologia de ensino), inclusive sugere o proprio nome da regional (pois nesta epoca capoeira era proibida por lei). Mestre Bimba criou a Luta regional Baiana, a qual ficou conhecida mais tarde como Capoeira Regional.
Ao contrário da Capoeira Angola, que era aprendida nas ruas, na improvisação, a Capoeira Regional era ensinada em recinto fechado, com método, prática de exercícios físicos e seqüências de ensino. A capoeira ganhou um caráter esportivo. Bimba obteve aprovação governamental ao dar à capoeira um caráter esportivo. Os capoeiristas eram vistos como vadios e bagunceiros devido as brigas, arruaças e confusões que faziam. Ao tirar a capoeira das ruas, ensinando-a em recinto fechado com método e disciplina, a capoeira passa à ser vista como esporte nacional.
Em 1973 Bimba despediu-se de Salvador e foi morar em Goiânia, onde morreu aos 74 anos em 5 de fevereiro de 1974, um ano depois que deixou a Bahia.
"Naquele tempo capoeira era coisa para carroceiro, trapicheiro, estivador e malandro. Eu era estivador, mas fui um pouco de tudo. A polícia perseguia um capoeira como se persegue um cão danado. Imagine só, que um dos castigos que davam a capoeiristas que fossem presos brigando, era amarrar um dos punhos num rabo de cavalo e outro em cavalo paralelo. Os dois cavalos eram soltos e postos a correr em disparada até o quartel. Comentavam até, por brincadeira, que era melhor brigar perto do quartel".
(Bimba, perfil do mestre)